sexta-feira, junho 8

                                              Último Soneto 
  
                                                          Álvares de Azevedo                     









Já da noite o palor me cobre o rosto,


Nos lábios meus o alento desfalece,


Surda agonia o coração fenece,


E devora meu ser mortal desgosto!





Do leito, embalde num macio encosto,


Tento o sono reter!... Já esmorece


O corpo exausto que o repouso esquece...


Eis o estado em que a mágoa me tem posto!





O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive


E tenha os olhos meus na escuridade.





Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos, por piedade,


Olhos por quem viveu quem já não vive!


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