quarta-feira, julho 14


No Caminho, com Maiakóvski
(Eduardo Alves da Costa)

Assim como a criança humildemente afaga
a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombrocom um poeta soviético.

Lendo teus versos,aprendi a ter coragem.
Tu sabes,conheces melhor do que eua velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flordo nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia,o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado repousar a cabeça
alheia ao terror.

Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.

No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade como um foco de germes
capaz de me destruir.


In: COSTA, Eduardo Alves da. No caminho, com Maiakóvski.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. (Poesia brasileira).

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