O paradoxo da condição humana
Eis aqui, pois, o paradoxo da
nossa condição humana: nossa dignidade e nossa depravação. Nós somos
igualmente capazes do mais sublime gesto de nobreza e da mais vil
crueldade. Num momento podemos comportar-nos como Deus, a cuja imagem
fomos criados, para logo depois agirmos como animais, dos quais
deveríamos diferir completamente. .."Foram os seres humanos que
inventaram os hospitais para cuidar dos doentes, universidades onde se
cultiva a sabedoria, assembleias e congressos para o governo justo dos
povos, e igrejas onde adorar a Deus. Mas foram eles também que
inventaram as câmaras de tortura, os campos de concentração e os
arsenais nucleares. Estranho e incrível paradoxo! Nobre e ignóbil,
racional e irracional, moral e imoral, divino e animal!"
Jonh Stott
Um Ensaio sobre a vida!
Minhas lágrimas nunca cessarão de rolar.
Mas, eu sei que um dia, Deus exugará deles toda lágrima,
e a morte não mais existirá, já não haverá mais luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.
sábado, setembro 26
ES: Governo trata organizações de DH como intrusos
fonte: Justiça Global
- Nercinda C. Heiderich
Por José Rabelo, Jornal Século Diário
Intrusos.
É assim que o governo Paulo Hartung classifica os representantes de
organizações de defesa de direitos humanos que vêm ao Estado para
apurar as denúncias de violações de direitos que se perpetuam no sistema
carcerário do Espírito Santo há mais de uma década. As denúncias, cada
vez mais contundentes, mancham a imagem do povo capixaba no Brasil e
no mundo.
Nessa
sexta-feira (5), não foi diferente. O secretário de Justiça Ângelo
Roncalli deu uma ordem expressa para que os representantes da Justiça
Global e Conectas, do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito
Santo (CEDH-ES), do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra
(CDDH-Serra) e da Pastoral do Menor, se retirassem da Penitenciária
Feminina de Tucum, em Cariacica.
A
comissão legítima, que estava vistoriando os presídios do Estado desde
a última quarta-feira (3), foi surpreendida com a determinação
truculenta do governo. “Não nos deram explicação alguma, simplesmente
pediram que nos retirássemos do interior do presídio poucos minutos
após a nossa entrada”, contou a diretora da Justiça Global, Sandra
Carvalho.
Sandra
Carvalho disse que achou a determinação estranha, pois a comissão já
havia visitado, nos dias anteriores, os DPJs de Cariacica e Vila Velha,
o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Cariacica e a Unidade de
Internação Socioeducativa (UNIS), no mesmo município.
O
presidente do CEDH-ES, Bruno Souza, declarou ao site da Justiça Global
(www.global.org.br) que a expulsão reflete a falta de diálogo e de
transparência com que o governo do Espírito Santo trata a questão do
sistema prisional. “Tentam de todas as formas ocultar as graves
violações de direitos humanos que acontecem sistematicamente nas
unidades prisionais do estado. Frequentemente, o governo desrespeita
decisões judiciais e determinações de organismos internacionais.”
A
diretora da Justiça Global, que acompanha as situações de violações de
direitos no sistema prisional capixaba há mais de cinco anos, concorda
com Bruno Souza. Sandra lembrou que os conselhos e as organizações do
Estado sempre foram impedidos de visitar as unidades prisionais,
direito que é previsto em lei. Ela também reclama que o governo não tem
se colocado aberto para o diálogo.
O
advogado da Conectas, Samuel Friedman, que também participou das
vistorias, além da expulsão sumária de Tucum, reclamou de outros
impedimentos impostos pelo governo do Estado à comissão. “Fomos
proibidos de entrar nos presídios com câmeras fotográficas. Assim fica
difícil para materializarmos provas sobre as violações”. Friedman disse
que a impressão que se tem e de que o governo quer “esconder alguma
coisa”.
Mesmo
cerceados, os membros da comissão conseguiram fotografar balas de
borracha que teriam sido disparadas contra os detentos do CDP de
Cariacica e as internas da Penitenciária de Tucum. Os próprios presos
conseguiram entregar as balas aos representantes das organizações.
Sandra Carvalho acrescentou também que havia marcas de tiros (armas de
fogo) nas paredes das unidades que foram disparados de fora para
dentro.
Histórico de intolerância
O
governo do Estado passou a ser ainda mais intolerante com as
organizações e com os conselhos de direitos humanos a partir de abril
de 2009, após o ex-presidente do Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária (CNPCP), Sérgio Salomão Shecaira, produzir um dos
relatórios mais contundentes sobre a caótica situação do sistema
penitenciário capixaba. À época, Shecaira comparou as “masmorras
capixabas” aos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra
Mundial.
O
relatório mobilizou uma verdadeira carreata de comissões de todo o
País que queriam comprovar se as atrocidades relatadas por Shecaira não
eram exageradas. O relatório, ratificado pelo Conselho Nacional de
Justiça e pela Comissão de Direitos da Pessoa Humana da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República – só para citar dois
exemplos -, foi parar na mesa do procurador geral da República com um
pedido de intervenção federal no Estado, tal era a gravidade das
violações.
Comprovando
mais uma vez a intolerância do governo capixaba para com o diálogo,
Shecaira saiu do Estado sem conseguir discutir os problemas de
violações de direitos com os secretários da Justiça e da Segurança,
respectivamente, Ângelo Roncalli e Rodney Rocha Miranda, que foram
refratários aos pedidos de reunião do ex-presidente do CNPCP.
A
tropa de choque do governo tratou a visita de Shecaira como
perseguição política ao Espírito Santo. Chegaram a dizer coisas
absurdas como: “Se fosse com Minas Gerais, que tem um bancada grande,
duvido que eles tivessem coragem de pedir intervenção”.Além disso:
“bisbilhoteiro, intrometido” e até “aloprado” foram alguns dos
impropérios disparados pelas autoridades do governo contra o
ex-presidente do CNPCP.
Na
queda de braço com Shecaira, o governo Paulo Hartung levou a melhor.
Logo após o pedido de intervenção cair na imprensa, o ministro da
Justiça, Tarso Genro, saiu em defesa do Espírito Santo e desautorizou o
Shecaira ao anunciar que haveria outra saída que não a intervenção para
o Estado.
Em
agosto do ano passado, Shecaira deixou a presidência do CNPCP alegando
que um dos motivos de sua saída era a crise no sistema penitenciário
do Espírito Santo. “Infelizmente, o Ministério da Justiça não me deu o
respaldo esperado para resolver os problemas no sistema carcerário do
Espírito Santo. Não me restou alternativa, a não ser sair”.
A
iniciativa de levar os casos de violações de direitos a instâncias
internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e
Organizações dos Estados Americanos (OEA), está sendo a saída encontrada
pelas organizações não-governamentais para manter as denúncias na
pauta.
Segundo
o advogado Samuel Friedman, a Conectas tem status consultivo no
Conselho de Direitos Humanos da ONU. Friedman explicou que a vinda da
Conectas ao Espírito Santo atendia a uma demanda da ONU. “Essa visita é
complementar a primeira que fizemos em novembro do ano passado, também
em conjunto com a Justiça Global e com os conselhos de direitos
humanos do Espírito Santo. Friedman afirmou que, a partir dos novos
dados coletados, a comissão vai concluir o relatório e enviá-lo às
comissões de Torturas e Execuções Sumárias da ONU e à OEA. Ele disse
ainda que o documento, no Brasil, será encaminhado ao CNJ, às comissões
de direitos humanos do Senado e da Câmara e inclusive à Procuradoria
Geral da República, que continua analisando o pedido de intervenção
federal no Estado.
O
advogado da Conectas também informou que em março, durante a reunião
regular da ONU, em Genebra, as organizações não-governamentais serão
ouvidas no Conselho de Direitos Humanos da ONU e os casos de violações
no Espírito Santo entrarão na pauta internacional.
O
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, instituído em março de 2006, é
formado por 47 países. Sua criação foi marcada por uma polêmica
envolvendo os Estados Unidos, as Ilhas Marshall, Palau, e Israel, países
que votaram contra a criação do novo Conselho.
Os
Estados Unidos justificaram seu voto contrário alegando que haveria
pouco poder envolvido no Conselho e não se conseguiria evitar os abusos
contra os direitos humanos que acontecem em todo o mundo.
fonte: Justiça Global
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